APOSTILAS CONCEITOS

LOGÍSTICA REVERSA

08/08/2011 17:20

 

A logística reversa também é conhecida por reversível, inversa ou verde, sendo a área da logística que trata, genericamente, do fluxo físico de produtos, embalagens ou outros materiais, desde o ponto de consumo até ao local de origem. Os processos de logística reversa já existiam, mas não eram tratados e denominados como tal, como por exemplo, o retorno das garrafas (vasilhame) e o recolhimento de lixos e resíduos. Atualmente é uma preocupação constante para todas as empresas e organizações públicas e privadas, tendo quatro grandes pilares de sustentação: a conscientização dos problemas ambientais; a sobrelotação dos aterros; a escassez de matérias primas; as políticas e a legislação ambiental.

A logística reversa aborda a questão da recuperação de produtos, parte de produtos, embalagens, materiais, dentre outros, desde o ponto de consumo até ao local de origem ou de deposição em local seguro, com o menor risco ambiental possível. Assim, a logística inversa trata de um tema bastante sensível e muito oportuno, em que o desenvolvimento sustentável e as políticas ambientais, são relevantes na atualidade.

Atualmente a logística não aborda somente os fluxos físicos e informacionais tradicionais, desde o ponto de origem, até ao local de consumo. É muito mais abrangente, envolvendo todos os fluxos físicos, informacionais, toda a gestão de materiais e toda a informação inerente, nos dois sentidos, direto e inverso. A logística reversa tem um papel preponderante, neste novo conceito de logística, muito mais global e abrangente.

O conceito de logística reversa, tem várias definições, em função dos autores ou organismos em causa. São duas definições de logística reversa, segundo o CSCMP (Council of Supply Chain Management Profissionals) uma organização internacional, e segundo os autores Rogers e Tibben-Lembke, que tem dedicado grande parte do seu tempo à investigação, desenvolvimento e sistematização desta área da logística:

1) Segundo o CSCMP, logística é «a parte do processo da cadeia de abastecimento que planeja, implementa e controla o eficiente e eficaz fluxo direto e inverso (logística reversa), e a armazenagem de produtos, serviços e informação relacionada, desde o ponto de origem até ao ponto de consumo, em ordem a satisfazer os requisitos dos clientes».

2) Segundo os autores Rogers e Tibben-Lembke (1998), a logística reversa pode ser definida como: «o processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e eficácia e dos custos, dos fluxos de matérias-primas, produtos em curso, produtos acabados e informação relacionada, desde o ponto de consumo até ao ponto de origem, com o objetivo de realizar a deposição adequada».

Em resumo, a logística reversa tem como objetivo principal, planejar, implementar e controlar de um modo eficiente e eficaz: o retorno ou a recuperação de produtos; a redução do consumo de matérias primas; a reciclagem, a substituição e a reutilização de materiais; a deposição de resíduos; a reparação e refabricação de produtos; fechando o circuito da cadeia de abastecimento de uma forma completa, sendo o ciclo logístico.

 Evolução

Há muito tempo existem processos de logística reversa, mas não eram tratados e denominados como tal, como por exemplo, o retorno das garrafas (vasilhame), a coleta de lixos e resíduos. Foi nos finais da década de 80 que teve ínicio o estudo aprofundado e a sistematização dos processos inerentes à logística reversa, tal como ela é no presente.

O desenvolvimento e progresso da logística reversa tem sido impulsionado, em grande parte, pelas questões ambientais, relacionado com o problema da deposição das embalagens dos produtos, da recuperação dos produtos, partes de produtos ou materiais, das devoluções de produtos em fim de vida e dos produtos com defeito.

Tem existido um forte crescimento desta área da logística, não só pela legislação ambiental, a qual impõe leis mais exigentes, mas também pela consciencialização ambiental das empresas, organizações e organismos públicos. Além destes dois aspectos que tem contribuído para o crescimento da logística reversa, existe um outro, de grande importância para as empresas, em geral: a logística reversa deve ser vista como uma nova oportunidade de negócio, não só porque as empresas têm a possibilidade de aumentarem os seus lucros, bem como, para o desenvolvimento tecnológico, apostando a indústria em novos equipamentos e recursos, respondendo ao constante progresso desta área da logística.

Em termos econômicos e financeiros, a logística reversa já representa cerca de 0,5% do Produto Interno Bruto, PIB dos E.U.A.. Esta vertente da logística encontra-se em franco desenvolvimento, e é um grande potencial de negócio emergente para as empresas e organizações, pois, as políticas ambientais tendem a ser cada vez mais exigentes. Outro fator de grande importância, e que está diretamente relacionado com o grande aumento da logística reversa é a compra de produtos através da internet, o chamado e-commerce.

Com o crescimento exponencial das vendas on-line, os sistemas de logística reversa, no que diz respeito à questão da gestão das devoluções, tem crescido de uma forma abrupta. Quando compra-se um produto pela internet, não é possível visualizar o produto fisicamente, e grande parte dos produtos são devolvidos por não corresponder às expectativas do cliente, o que faz acionar os sistemas de logística reversa.

Podemos mesmo afirmar que a grande maioria dos sistemas de logística reversa, aparecem devido à questão das devoluções. Os clientes são cada vez mais exigentes e caso os produtos não correspondam às suas expectativas, acionam o processo de devolução, cada vez mais disponibilizado pelas empresas, de modo a prestarem um serviço de pós-venda de qualidade cada vez melhor, tentando atingir ou mesmo ultrapassar as expectativas dos clientes. Deste modo é possivel fidelizar o cliente, pois, estes preferem, na maioria dos casos, ter poucos fornecedores, em detrimento de vários, mas que correspondam ou mesmo superem as suas expectativas.

 

 Processos e fluxos logísticos reversos

A logística reversa aplica-se a todos os fluxos físicos inversos, isto é, do ponto de consumo até à origem ou deposição em local seguro de embalagens, produtos em fim de vida, devoluções, etc, tendo as mais variadas áreas de aplicação, como por exemplo: componentes para a indústria automobilística; vendas por catálogo; frigoríficos, máquinas de lavar e outros eletrodomésticos; computadores, impressoras e fotocopiadoras; embalagens; pilhas; baterias; revistas, jornais e livros;

Estes fluxos físicos de sentido inverso, estão ligados às novas indústrias de reaproveitamento de produtos ou materiais em fim de ciclo de vida, tais como: desperdícios e detritos, transformação de certos tipos de lixo, produtos deteriorados ou objeto de reclamação e consequente devolução, retorno de embalagens utilizadas e a reciclar, veículos e outros tipos de equipamentos em fim de vida.

Os dois sistemas, logística direta ou forward e logística reversa ou reverse, integram e agregam valor à cadeia de abastecimento com o ciclo completo, e para poderem sobreviver devem ser de certo modo competitivos, minimizando os custos de transporte, na medida do possível, otimizando os veículos no retorno, com o transporte de devoluções, material para reciclar, desperdícios e produtos deteriorados, permitindo rentabilizar e otimizar o transporte, minimizando os respectivos custos.

 As principais atividades, na logística reversa, são as seguintes:

  • retorno do produto à origem;
  • revenda do produto retornado;
  • venda do produto num mercado secundário;
  • venda do produto via outlet;
  • venda do produto com desconto;
  • remanufatura;
  • reciclagem;
  • reparação ou reabilitação;
  • doação;

Estes são os fluxos físicos inversos, referentes às atividades mais comuns no processo da logística reversa e fluxos direcionais, das várias atividades e processos inversos, isto é, do ponto de destino ou consumo, até à origem ou local de deposição. São várias as atividades e processos da logística reversa, estando representados aqui os mais comuns. Desde o recolhimento dos diferentes resíduos ou produtos, passando pelo acondicionamento dos mesmos, até à sua expedição e transporte para o destino mais apropriado, seja para efeitos de reciclagem, devolução, para revenda, para deposição em local seguro ou mesmo para destruição, em certos casos de resíduos perigosos.

No que concerne à cadeia dos produtos recuperados, grande parte pode não ser reciclável, e assim, não será reutilizável. Alguns produtos em grande parte dos casos, não podem ou não devem ser reutilizados, por razões técnicas ou econômicas. Estes produtos deverão ser depositados em locais seguros, apropriados e licenciados de acordo com a legislação vigente.

Isto aplica-se, por exemplo, a produtos rejeitados quando separados, face ao elevado número de componentes, aplicando-se também a resíduos perigosos que não podem ser reciclados, ou ainda a produtos com o prazo de validade expirado. Nestes casos, os resíduos serão alvo de um processo logístico adicional, dependendo do tipo de resíduo e do grau de periculosidade, que envolverá a sua destruição ecológica, como por exemplo, a incineração ou a co-incineração, avaliando-se, caso a caso, qual o processo mais apropriado.

Os lixos ou resíduos não recicláveis e não perigosos, são depositados em aterros, em sucessivas camadas, sendo as camadas compactadas através de veículos próprios para essa finalidade, sendo o aterro selado após a saturação da sua capacidade. Após a selagem, grande parte dos aterros pode ser convertido em zonas verdes ou ajardinadas, de modo a, melhorar o impacto visual do mesmo, e ter uma finalidade totalmente distinta da que teve enquanto local para a deposição de lixos.

Estamos, assim, perante ciclos logísticos completos, com o retorno ou reciclagem dos produtos, para reutilização, caso seja possível, ou a destruição ecológica. Estes ciclos logísticos completos são assegurados pelos próprios fornecedores dos produtos ou materiais, facilitando, deste modo, o trabalho dos clientes.

 
Principais processos reversos

   Os processos que tem mais peso nos fluxos físicos inversos, são as devoluções e os componentes ou produtos em fim de ciclo de vida para reciclagem.

As devoluções representam grande parte dos fluxos físicos inversos, na cadeia de abastecimento e dividem-se em duas grandes vertentes: as devoluções pelo consumidor, em venda direta, e as devoluções por erros de expedição. A devolução realizada pelo consumidor final de um produto numa venda direta tem crescido, e a tendência é de continuarem a crescer, em virtude dos clientes serem cada vez mais exigentes, e as suas expectativas cada vez maiores.

Em resposta as empresas e organizações, por vezes em cumprimento da legislação própria de cada país, mas cada vez mais por sua livre e expontânea vontade, e independentemente da existência de legislação ou não, permitem ao cliente ou ao consumidor, devolver o produto adquirido, caso este não corresponda às suas expectativas ou no caso das vendas por catálogo ou as vendas on-line, caso o cliente queira, aceitar a devolução do produto adquirido sem restrições. Trata-se sobretudo, de um fator de competitividade das empresas, face à globalização do comércio, para a qual tem contribuído em larga escala o e-commerce, que atualmente tem um enorme peso no total das vendas de produtos e serviços, a nível mundial.

É óbvia a existência de custo associado a este tipo de devolução, o qual é absorvido pelas empresas , e com tendência a  aumentar, pelas razões anteriormente descritas, pois, trata-se sobretudo de aumentar a competitividade em relação à concorrência, tentando continuamente melhorar a qualidade do serviço prestado ao cliente.

As devoluções acontecem também por qualquer erro que tenha existido na expedição de determinado produto. Estes erros têm variadas razões para acontecerem, entre as quais, destacamos as seguintes: má etiquetagem, falhas do operador logístico, erros humanos, coordenação entre diferentes operadores logísticos.

Ao contrário das devoluções por venda direta, ao consumidor, as devoluções por erros de expedição, podem ser reduzidas e minimizadas, através de vários processos de armazenagem e expedição, que estão hoje disponíveis, no mercado: a informatização de sistemas de recepção, expedição e transporte, a leitura por código de barras, o EDI (Electronic Data Interchange), entre outros. Portanto, o custo logístico das devoluções por erros ou falhas de expedição ou transporte, pode ser controlado pelas empresas e organizações, estando ao seu alcance a redução destes custos, através das ferramentas referidas anteriormente. Trata-se, apenas, de escolher as ferramentas que melhor se adaptem a determinado negócio, sendo inclusive possível personalizar estas ferramentas a cada realidade distinta .

O retorno dos produtos sujeitos ao processo de devolução, ou seja, o fluxo físico inverso desde o ponto de venda ou consumo, até à origem, deverá ser realizado, sempre que for possível, pelo mesmo meio de transporte pelo qual é realizada a sua entrega no local de consumo, isto é, o fluxo físico direto. Deste modo, é possível otimizar a cadeia de abastecimento, direta e inversa, rentabilizando o transporte ao máximo. Normalmente os produtos sujeitos a devolução, são armazenados em locais destinados para áreas restritas do armazém, de modo a não cometer erros de expedição, evitando que fisicamente os produtos coabitem juntos.

Em relação aos componentes ou produtos em fim de ciclo de vida para reciclagem, o seu número tem aumentado de uma forma exponencial, derivado de vários fatores, entre os quais destacam-se três: o primeiro fator que destacamos é o da conscientização da sociedade, para a questão da sustentabilidade do meio ambiente.

Cada vez mais, a sociedade tem o dever de colaborar nas políticas ambientais, realizando, cada um de nós, a separação dos lixos, de acordo com o tipo de resíduos ou lixos, depositando-os nos locais destinados para esse fim (ecoponto). É nos países mais desenvolvidos, e com maior qualidade de vida, onde existe o maior número de pessoas conscientes desta realidade, colaborando na separação e recolhimento dos diferentes tipos de resíduos domésticos, que em grande parte podem ser reciclados, sendo deste modo, reaproveitados ou a sua matéria-prima reutilizada em novos produtos. Deste modo, estamos também contribuindo para que, somente os resíduos orgânicos, tenham de ser depositados em local próprio (por exemplo, os aterros). Em relação aos resíduos industriais, a politíca deverá ser idêntica, ou ainda mais exigente, pois, as indústrias produzem grandes quantidades de resíduos e lixos, e por vezes bastante perigosos e tóxicos.

O segundo fato, é a legislação ambiental, a qual é cada vez mais restritiva, em relação à questão dos resíduos, lixos e detritos. As políticas e a legislação ambiental, tende, nos vários países e comunidades, a ser cada vez mais exigente e restritiva. Ao nível da União Europeia, existem diretivas comuns acerca deste tema. Para os países que não cumpram a legislação, em caso de violação, existem sanções, as quais deverão ser aplicadas em função dos danos ambientais causados.

O terceiro e último fator, é o desenvolvimento e o progresso tecnológico. Os processos industriais e os próprios equipamentos industriais, das indústrias que se dedicam à reciclagem, estão em evolução permanente, permitindo, deste modo, que mais componentes de produtos de diferentes materiais, possam ser reciclados e consequentemente reutilizados ou reaproveitados, como matéria-prima, em produtos novos.

Existem cada vez mais empresas, especializadas na gestão integral de resíduos, realizando, grande parte delas o recolhimento, transporte, separação e deposição no local próprio, e algumas delas, executando mesmo a própria reciclagem.

 

 Conclusões e desafios futuros

A logística reversa é um enorme desafio para todas as empresas e organizações, e também para a criação de novas empresas, que vêem nesta área uma oportunidade única para investimento, possibilitando o aparecimento de novos lucros, pois, cada vez mais, os produtos em fim de ciclo de vida deverão ser decompostos em componentes recicláveis ou em caso de não ser possível, esses componentes serem depositados em local seguro.

A evolução e progresso da logística reversa, a nível tecnológico, têm permitido a descoberta de novos equipamentos e de novos processos de decomposição e de transformação química, contribuindo, assim, para que o objetivo de atingirmos, os 100% de componentes recicláveis ou reaproveitáveis.

Trata-se de uma nova área de negócio, em todos os sentidos, potenciando a criação e desenvolvimento de empresas especializadas nesta área, contribuíndo, não só, para agregar valor, empregando mais pessoas, mas também tentando inverter, ou mesmo regredir, o processo de deteriorização do nosso meio ambiente. Muitas empresas e organizações, consideram a logística reversa um custo.

Algumas empresas, encaram a logística reversa como uma oportunidade nova para obter ganhos significativos com a otimização dos processos logísticos, tendo ganhos e agregando valor, através dos subprodutos gerados.

A logística reversa deve ser encarada, nas empresas e organizações, como uma atividade transversal a todos os departamentos, pois, só assim será possível obter ganhos operacionais e financeiros relevantes. Toda a organização deverá colaborar e participar nos processos inerentes a esta atividade, desde o presidente executivo, passando pelos vários departamentos, recursos humanos, marketing, comercial, financeiro, até à produção.

A logística reversa é um processo chave na fidelização dos clientes, não só, pelos processos de devoluções, satisfazendo as necessidades dos clientes, mas também pelo processo de pós-venda, no qual o cliente é assistido e aconselhado, permitindo a sua satisfação plena, com a qualidade do serviço prestado por determinada empresa ou organização.

A sustentabilidade do nosso planeta a nível ambiental, a legislação ambiental cada vez mais restritiva e a escassez de recursos naturais, são os principais fatores que contribuem para que a logística reversa seja a área da logística com um futuro promissor. Cada vez mais, os clientes valorizam as empresas que possuem políticas ambientais mais exigentes, sendo um fator de competitividade entre empresas e logo uma estratégia de diferenciação entre empresas concorrentes.

Todos nós, estamos contribuindo no processo da logística reversa, quando fazemos a separação dos vários resíduos e embalagens dos produtos que consumimos no nosso dia-a-dia, e os colocamos nos recipientes adequados para recolhimento, e posterior reciclagem, ou caso não seja possível, a deposição em local seguro. Somente através de uma postura pró-ativa, neste domínio, poderemos dar uma forte contribuição para a diminuição dos detritos e desperdícios, que não sendo separados e recolhidos, não sofrerão um processo de reciclagem, sendo o seu destino mais provável, um aterro ou uma lixeira.

Nos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, ainda existem lixeiras a céu aberto, o que será insustentável dentro de poucos anos. As políticas e diretivas ambientais, deverão passar por acordos globais, a nível mundial, e para que sejam cumpridos, será necessária uma fiscalização isenta, eficiente e objetiva, de modo que os governos locais, por vezes, mais preocupados com as questões econômicas, não passem para segundo plano os temas relacionados com o meio ambiente, ignorando e violando mesmo, algumas vezes,a própria legislação ambiental.

Assim, todos nós participamos no processo da logística reversa, e devemos ter uma postura de conscientização dos nossos familiares mais próximos, no sentido de cada vez mais pessoas terem a noção da importância desta questão, contribuindo para a sustentabilidade do nosso meio ambiente.

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